quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Vai Pensando Aí"

O vídeo faz parte da campanha "Criminalizar o aborto resolve? Vai pensando ai".  Ele visa estimular o debate sobre a legalização do aborto no Brasil.



O que mais marca a situação de um abortamento...

Assim, a análise compreensiva de vários depoimentos revelou-se que, aos olhos dessas mulheres, o estar vivenciando a situação de abortamento se mostra:
Como uma experiência permeada por grande dor e que o abortamento foi experimentado como um momento do qual fazem parte sentimentos como tristeza, perda, solidão e dor. As falas mostram a expressão desse “estar sofrendo”:
“é ruim viu....é triste... nossa passei uma....barra sozinha em casa...com dor...quando eu vi aquele sangue eu chorei, chorei bastante...uma dor que é incompatível...nunca senti uma dor dessa tão forte e nessas horas foi que eu queria um apoio, alguém do meu lado...”

Foi possível perceber as diferentes naturezas da dor. A dor fisiológica e a existencial, isto é, da perda. Essa polaridade da dor é evidenciada nesta fala:
“Tive muita dor por dentro e por fora. Em tudo, no coração, dentro...chorei muito..”.

  Algumas revelam a natureza frágil dos relacionamentos afetivo-sexuais que mantém com os parceiros, as relações conjugais e também o sofrimento com a ausência, incompreensão descaso do parceiro:
“a gente desarmada, não dá prá gente...insistir com a camisinha. Parece que se
fizer jogo duro, ele vai embora e me deixa na mão...”

“porque a mulher sofre e o homem não...vê, não percebe o quanto que a mulher está sofrendo...”

O papel masculino foi esquecido, mas é preciso que aos homens sejam ensinados eaprendam o exercício do direito do casal para a tomada de decisões.
Como uma experiência que requer uma hospitalização que se mostra desconfortante:
O desejo de retornar às suas casas emerge em suas falas:

“Quero que faça o efeito logo do remédio...não falaram nada da curetagem? Eu queria que fosse logo,quero ir embora...não vejo a hora deir embora... “

Foi relatado o medo de que pessoas significantes descobrissem o ocorrido:

“Meus pais vão ligar em casa, né...porque eles moram em G, e eu em república...a única pessoa que sabe que eu estou aqui é uma amiga minha da república, se meus pais ligarem lá eu peço para falar que eu fui dormir na casa de uma amiga para estudar “




·       O que as incomodava no local era o não parar de pensar, de refletir. Às vezes, o silêncio as incomodava:
“Eu não queria mais a tortura remoendo, uma coisa que vai e volta sem parar na cabeça da gente. Queria acabar com tudo o mais rápido possível e nunca mais lembrar do que aconteceu...”

O desejo de ter ou não um filho, de ter ou não provocado um aborto, da situação econômica da família e da idade gestacional não interferem no sentido de amenizar o acontecido. O aborto envolto por critérios éticos, morais e religiosos incomoda as mulheres, levando-as ao sentimento de culpa ou medo de
·       ser culpada pelo modo com ela está encarando a situação. Pude apreender esse medo através de sua fala:
Não sei se de repente alguém pode pensar que eu sou uma menina fria por pensar assim, entendeu? Do modo como eu estou encarando toda essa situação, para mim tinha que acontecer  isso, não era o momento de ter um filho agora intensifica a dor dessa perda.”

·       Como uma experiência que envolve uma preocupação com o corpo
“mas eu tive medo...medo de acontecer algumas coisa...com a gente
mesmo...mas acho que eu vou ficar nesse mesmo arranjar pra perder, né...a gente só sofre... “

        “ ...agora eu pretendo esperar ó daqui uns cinco anos e olhe lá ainda...eu peguei trauma...pensei até em não ter filhos nunca mais.”
“Fiquei com medo de acontecer alguma coisa, porque está mexendo no seu útero, né, uma coisa mais séria,...sei lá, de acontecer alguma coisa e eu não poder ter mais filhos..”

·       Como uma experiência que traz consigo o desejo de rever projetos de vida
“Hoje, eu quero dar um futuro melhor pros meus filhos...porque criança não tem culpa do que os pais fazem...hoje eu queromais ser dedicada, meus estudo....”
“mas agora eu quero arrumar minha vida...trabalhar...e eu quero mais ver meu filho
bem...e só. “

“Nunca mais quero passar por isso...agora quero planejar melhor...Agora vou evitar.”
Estes trechos dos depoimentos foram retirados do artigo:
 Boemer,M. R; Mariutti, M. G;  A mulher em situação de abortamento: um enfoque existencial. Revista da Escola de Enfermagem da  USP 2003; 37(2): 59-71.




Alguns depoimentos...

"Já fiz dois abortos. Achava que nada ia acontecer e quase nunca tomava precauções na hora do sexo. Eu era apaixonada por um menino da escola, o Carlos, e, como sempre fui o patinho feio entre as amigas, fiquei deslumbrada quando ele quis ficar comigo. Fazia de tudo para ficarmos juntos e acabei engravidando. Quando soube da notícia, corri para a casa dele para contar e ver o que decidiríamos. Ele nem me atendeu. Chorei muito naquele dia e decidi tirar o bebê. Procurei uma clínica e fiz um aborto sem avisar ninguém. Como sempre trabalhei, dinheiro não foi problema. Fui e voltei sozinha da clínica e me sentia muito mal, culpada e suja. Fiquei um dia inteiro na cama sentindo dores, sangrando e chorando. Anos depois, ao reencontrar o Carlos, voltamos a ficar juntos e ele me pediu desculpas pela maneira como agiu. Disse que amigas em comum já tinham contado que eu estava grávida e que ele fugiu do problema. Ficamos juntos alguns meses e eu engravidei de novo. Tirei o bebê mais uma vez, na mesma clínica, sentindo o mesmo mal-estar e dores físicas e psicológicas. Desta vez, ele me ajudou a pagar. Sei que não tinha condições de criar o bebê e não me arrependo. Sinto dor por ter errado duas vezes."
Ana Pimenta (nome fictício), 29 anos, abortou aos 18 e 23 anos.

"Aos 21 anos fui morar em Londres. Assim que cheguei, conheci um muçulmano da Bósnia e fomos morar juntos porque estávamos namorando e seria bom dividir as despesas. Depois de alguns meses, engravidei. Conversamos sobre a possibilidade de ter um filho, mas ele foi criado em uma cultura muito diferente da minha e eu sabia que o nosso relacionamento não seria para sempre. Procurei um hospital e abortei, já que o aborto é legalizado por lá. Senti muita dor, chorei e me culpei pela situação de engravidar longe da minha família, estando ilegal em um país e de uma pessoa que me batia e estava muito distante de ser o que eu planejei para mim. Carrego a dor todos os dias comigo e nossa relação chegou ao fim um ano depois do aborto. Ele dizia que eu era culpada pela situação."
Carla Santos (nome fictício) tem 24 anos e abortou aos 22.

O grito silencioso - Parte 1

O grito silencioso - Parte 2

O grito silencioso - Parte 3

O grito silencioso - Parte 4

Fim do Silêncio ou Grito Silencioso - 2ª versão


Nos anos 60 um médico chamado Bernard Nathanson teve grande participação na legalização do aborto nos Estados Unidos.
Nathanson chegou a ser dono de uma das maiores clinicas de aborto do mundo. Fez pessoalmente mais de 5000 abortos, incluindo um filho seu. Ele acreditava que o embrião era uma coisa que só poderia ser considerada " humana" pela fé. Até que um dia teve acesso à "nova tecnologia" de ultra-som e teve a possibilidade de visualizar um aborto de um embrião de 12 semanas. Ficou tão chocado que produziu um documentário para exibí-la. O nome do documentário? O Grito Silencioso.
As diversas partes deste vídeo estão na íntegra publicados no You Tube.

Assuntos Inconciliáveis: Ética e Aborto

“Se uma mãe pode matar o seu próprio filho, o que poderá impedir, a ti ou a mim, de nos matarmos uns aos outros”
Madre Tereza de Calcutá

O aborto é um caso típico onde as posições quanto ao fundamento ético são inconciliáveis. Para alguns trata-se do direito à vida, para outros é evidente que envolve o direito da mulher ao seu próprio corpo e há, ainda, os que estão convencidos de que a malformação grave deve ser eliminada a qualquer preço porque a sociedade tem o direito de ser constituída por indivíduos capazes.
Eticamente o aborto é inaceitável do ponto de vista moral e profissional, mas o que fazer perante a lei que em certos casos onde o aborto é autorizado? Normalmente profissionais da área da saúde não falam muito sobre o assunto, primeiro porque todo profissional dessa área tem um código de ética a ser seguido e segundo porque moralmente a maioria não acha correto esse procedimento. 

"Pela vida de todas nós"

Vídeo realizado pelo CFEMEA no âmbito da campanha "Pela política na lei, pela política na vida". Foi lançado no dia 28 de setembro -- Dia de luta pela descriminalização do aborto na América Latina e Caribe.
O vídeo cita dados sobre o aborto no Brasil.